segunda-feira, 21 de abril de 2008

Sobre pontes

Então, meu feriadão foi muito bom. Sem mais detalhes, envolveu assistir a um filme que há tempos queria ver, sair com as amigas, ré-arrumar meu quarto, divertir-me e ser surpreendida. Uma excelente surpresa, diga-se de passagem. Que venham mais como essa.


* * *


Já faz parte das minhas primeiras atividades das manhãs de sábado ler a Das Antigas. Sendo fã da coluna e do Demitri Túlio (uma pessoa divertida, inteligente, atenciosa, extremamente talentosa e a quem tive o grande prazer de conhecer), você certamente me encontrará com uma xícara de café numa mão e o Vida & Arte na outra, provavelmente rindo das situações por ele narradas. Anyway, a coluna da última semana me chamou a atenção, não pela sua comicidade, mas pelo conteúdo em si. Achei belíssima; não resisti em compartilhá-la e resolvi trancrevê-la aqui. Só pra constar: o Demitri é repórter especial do O Povo, tendo passado por quase todas as editorias da Redação, e ganhou alguns dos prêmios mais importantes de jornalismo do País e Américas, como o Esso (5) e Sociedade Interamericana de Imprensa (2). Lançou o livro Das Antigas - crônicas escolhidas I. A coluna Das Antigas sai todos os sábados, no caderno Vida & Arte.
Segue a tal que, por algum motivo, tanto me impressionou.




'CARO SEU GIL FURTADO,


COMO DIZ UMA AMIGA DE REDAÇÃO, a saudade é uma ponte. E por causa dessa frase tive de me rebolar para tentar responder ao Pedro Túlio, meu rebento temporão. Leu no santinho de seu Francisco e me pediu que desencantasse o que enigmático viria a ser. Ponte não é pra passar carro, carroça de boi puxar, andar gente a pé, correr o trem porque tem um rio ou um mar brincando embaixo?

PONTE, MEU PAI, não é apenas um jeito diferente da gente reinventar o caminhar? Ou um lugar, que já vi em filmes, pra alguém pescar ou dar beijos de namorados? Ponte, a professora nos ensinou (dicionário na mão), é uma construção destinada a estabelecer ligação entre margens opostas de um curso d’água ou de outra superfície líquida qualquer...É, pai?

COMO A SAUDADE pode ser uma ponte, se vi no meu livro de história que em algumas delas houve arengas de guerras infindas? Ponte não é aquilo que construíram no quintal lá de casa porque a chuva alagou tudo, a fossa estourou, o cacimbão transbordou e a goiabeira ficou gripada?

PONTE, MEU PAI, pensei que fosse apenas uma imagem de cartão postal de algum cafundó imaginado. Ou um retrato pintado a guache por dona Araci. De uma menina saltitante. Cestinha na mão, vestido de saia rodada e fita vermelha no cabelo. Sim, e um menino correndo logo atrás e, logo atrás dele, um cachorro que gostava de ter nascido cachorro. O gato, também vinha feliz. Rabo esticado, patinhas de bailarina e louco pra ter asas de borboleta.

A SAUDADE É UMA ponte, pai? E ponte é o quê, mesmo? É você lembrar do dia em que vi chuva pela primeira vez e achei que o céu estava se desmanchando? De você ter me visto brincar de ator na escola e enchido as lágrimas de olhos? De ter corrido pros seus braços quando um trovão rasgou o nada?

OU SOU EU RECORDAR de você fazer pipoca, espantar a tanajura, me apertar e me morder? Ou eu rir de você quando contava que a vovó lhe puxava as orelhas porque não decorava a tabuada?

PAI, A PONTE é feita de tijolos ou de saudades? E toda vida que temos saudades há uma ponte?
Façamos assim, toda vida que eu quiser lembrar de você (sem precisão de tristeza, choro ou bala soft na garganta) vou subir num ipê amarelo, vou andar pela João Cordeiro, vou ficar calado pra ouvir suas risadas, vou ler um jornal de cabo a rabo ou dar um pulinho na UFC... Vou aparar água da chuva, colher asas de formigas, desvarrer a calçada, cantar cantigas de grilos e encher os baldes de lembranças.

SUAVES, CHEIAS DE desejos de vê-lo. Mas por compreender impossível, construir pontes de saudades e passarinhos. De ir ali e voltar já. Breve, breve...'








au revoir e até a próxima,

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